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GENTE DE LAVRAS – Regina Carvalho

A infância ao lado dos avós foi determinante em muitos aspectos na vida de Regina Carvalho: vínculo e valor ao campo é um deles. Ela tinha apenas seis meses quando a mãe adoeceu e ela e o irmão foram deixados aos cuidados dos avós. Mesmo com a recuperação da mãe, e o nascimento da irmã mais nova, a pequena Regina, já acostumada com os cuidados dos avós, só veio morar na casa dos pais com 12 anos para cursar o antigo Ginásio, que hoje equivale ao ensino fundamental.

Assim começam os primeiros anos da história desta lavrense, mãe de três filhos, avó de quatro netos e professora aposentada.

A vinda pra cidade não foi a única mudança, começar a trabalhar também fez parte dessa época. “Meus pais tinham uma padaria, a única da cidade. Tinham também um bar/sorveteria, mas nesse tempo eu só atendia no balcão, não sabia nada de cozinha ainda. Lá na campanha eu ajudava no que podia, mas como morava muita gente e tinha quem fizesse a lida só fui aprender algumas coisas quando casei.”

Regina casou-se aos 20 anos, e foi somente depois que foi morar com o marido, novamente na zona rural do município, que começou a ver que tinha dom para a culinária. Sua primeira experiência foi fazendo bolos, docinhos e salgados para aniversários.

Ela conta que era costume na Meia-Lua (localidade do Interior de Lavras do Sul) trocar produtos entre os moradores: “se eu tinha uma abóbora levava pra vizinha e ela me presenteava com o que tivesse para oferecer” Foi então que ela leu em uma revista uma receita de conserva de pimenta e resolveu experimentar. “Presenteei as esposas dos associados do CITE 27 (clube de integração e troca de experiências entre proprietários de campo) e foi um sucesso.”

Logo veio a aposentadoria e junto com ela a certeza de que não queria parar. “Não me imaginava tão nova fazendo só o serviço de casa”. Desafiada em manter-se na ativa, ela procurou a Mariluce, extensionista rural da Emater, e propôs para ela que um antigo grupo da Meia-Lua fosse reativado. “A primeira ideia era aprender a tecelagem, aproveitar que criávamos ovelha e agregar valor ao que já produzíamos.” Mas a surpresa veio com um curso de pães, proporcionado também pela Emater. “Vi que não era a tecelagem que eu procurava, mas sim a culinária e então não parei mais.”

Foi daí que surgiu o grupo de produtoras rurais Sabor da Terra, ainda atuante. “Começamos a ver que juntas éramos mais fortes, e iniciamos uma produção de produtos dos mais variados sabores: pães, queijos, doces. Fiquei 15 anos em atividade com o grupo, conheci diversos lugares do Estado através deste trabalho da Emater, com principal ajuda do Jorge Souza e da Mariluce, mas não tinha mais energia para tantas saídas e atividades que o Sabor da Terra nos proporciona. Foi uma época maravilhosa, mas a gente sabe quando é nossa hora de parar”.

Na mesma época, Regina teve a ideia de levar a gurizada da cidade para conhecer a lida do campo, já que apesar de Lavras do Sul ser uma cidade com perfil rural muitas pessoas não tem contato direto com o trabalho das propriedades. “Começamos a receber turmas de escola, de idosos, e até de universidades. Fazíamos um bate-papo, apresentávamos a função de cada atividade e eu servia uma farta mesa de café.”

Foi daí que surgiu o Café Campeiro, uma espécie de café colonial, mas com produtos típicos daqui da terra. Essas atividades duraram cerca de seis anos, mas hoje Regina serve com a mesma qualidade eventos de todos os tipos e tamanhos.

Apesar das dificuldades de comunicação, praticamente não existe sinal de celular na Estância Velha (propriedade da Regina), as vendas continuam fortes. “Tudo que aprendi de técnica apliquei nas receitas da família, ainda crio algumas coisas novas e hoje ainda posso aprender algumas coisas através da internet”.

Ela realmente não para, e conta que seu “carro forte” é a geleia de pimenta: “levo uma manhã e uma tarde só arrumando as pimentas, mas sinto um prazer enorme no que faço”. Para Regina os ensinamentos que teve em palestras, e cursos ensinaram uma verdadeira mágica: Agregar valor! “Se trago um litro de leite ou uma dúzia de ovos, vendendo ganho R$ 5,00, mas se fizer uma ambrosia dá três vidros de R$ 36,00. Se tenho uma laranja em casa ralo e faço casquinhas açucaradas que vendem muito. Do suco posso fazer quatro bolos e ainda uso a pectina (parte branca da laranja) como ingrediente na Geleia de Pimenta. É um aproveitamento total de cada produto”.

No auge de seus 73 anos ela diz que há anos promete que vai deixar de lado as vendas e descansar, mas não consegue. “Eu tenho muito amor pelas coisas que vem da natureza, cozinhar me faz muito bem, alguns dias estou triste, mas vejo que abriu uma flor no meu jardim, ou que um bichinho deu cria e sigo em frente”.

A Regina Carvalho é Gente de Lavras, uma mulher que sabe extrair e agregar valor a tudo o que a vida proporciona.

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