Municípios mineradores descobrem nichos turísticos de potencial inesgotável após a exaustão e consequente fechamento de minas, por meio de destinos já desbravados e novos roteiros que promovem sustentabilidade ambiental e a almejada diversificação econômica
Setor essencial e importantíssimo para a economia mundial, a mineração está presente em praticamente todos os itens usados no dia a dia. É uma força motriz inegável para o desenvolvimento econômico e social nas cidades próximas às atividades mineradoras. Mas os recursos extraídos e a vida útil de uma mina são esgotáveis, o que exige um plano de fechamento eficaz que integre empresa, comunidade e governo, para que o resultado final seja duradouro e sustentável. Essa fase imprescindível da mineração pode gerar grandes investimentos se houver um bom planejamento, e, do contrário, causar a necessidade de recuperação, a altos custos, de grandes áreas degradadas e não recuperadas, além de uma grande insatisfação da comunidade, entre outras questões.
O debate sobre fechamento de minas é relativamente novo no Brasil, embora seja um aspecto importante na extração mineral. A Resolução ANM nº 68/2021 estabeleceu regras referentes ao Plano de Fechamento de Mina – PFM – e revogou as Normas Reguladoras da Mineração aprovadas pela Portaria DNPM nº 237, de 18 de outubro de 2001. É de natureza obrigatória, pela legislação ambiental vigente, que qualquer empreendimento reabilite o solo para um estado utilizável, juntamente com o término das atividades de produção.
O que fica para a comunidade?
A conscientização com a questão ambiental começou a ganhar força nos anos 70, o que também trouxe preocupação com a desativação das minas, além de provocar grandes transformações na indústria mineradora e na visão das atividades de mineração, por considerá-la, a partir de então, como uma forma de uso temporário do solo e não como uso final, como era no passado. Neste contexto, o que ficará para a comunidade? Precisarão descobrir novas alternativas? E essas alternativas foram desenvolvidas e pensadas ao longo da vida da mina? A área explorada precisa ser devolvida à comunidade totalmente recuperada do ponto de vista estrutural e ambiental, e a maneira como isso ocorrerá dependerá do projeto final das instalações (tamanho das estruturas e as atividades públicas e privadas desenvolvidas no entorno, por exemplo), trabalhando em conjunto com a comunidade e atendendo às demandas da região.
É nessa seara que o turismo é eleito como uma das alternativas. O setor injeta mais de US$ 163 milhões na economia brasileira, o que significa 7,9% do PIB do país (dados de 2017). A convergência entre mineração e turismo cria novas fontes de renda no pós-fechamento de minas, e bons exemplos não faltam.
Várias cidades mineradoras conseguem desenvolver muito bem esse sistema de reajuste. Itabira (MG), terra do escritor Carlos Drummond de Andrade, é uma delas. No local, há o Museu do Tropeiro e cachoeiras muito visitadas em um distrito próximo, conhecido por Ipoema. Outro município que também explora ambas atividades é Conceição do Mato Dentro, que abriga a planta de uma mineradora. Um dos seus maiores pontos turísticos é a Cachoeira do Tabuleiro, de 273 metros de queda, a mais alta de Minas Gerais e a terceira maior do país, que teve suas trilhas recuperadas pela empresa.
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Foto: Divulgação Site Prefeitura Municipal de Itabira
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Foto: Divulgação Site Entre Ruralidades e Personagens
Ainda no estado de Minas Gerais, o município de Brumadinho abriga o maior museu a céu aberto do mundo. Construído em 2006 – o Instituto Inhotim, jardim botânico e museu de arte contemporânea – tem mais de 500 obras, um acervo avaliado em cerca de R$ 2 bilhões, e a manutenção de mais de 600 empregos diretos. Todo este complexo foi idealizado por um empresário da área da mineração, Bernardo Paz.
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Foto: Samuel Fortunato
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Foto: Cesar Kobayashi
Em Belo Horizonte, o Parque das Mangabeiras é a região de maior área verde da capital mineira, e já foi uma mina de extração de ferro. Catas Altas, cidade também de história influenciada pela extração de minério, abriga o Santuário do Caraça.
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Foto: Divulgação Prefeitura Municipal de BH
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Foto: Lúcia Sebe/Secom MG
Em Mariana, a Mina da Passagem é a maior mina aberta à visitação no mundo. Outras localidades do estado mineiro também casam mineração e turismo, como Ouro Preto, com a Mina Chico Rei, Barão de Cocais e São Gonçalo do Rio Abaixo, a partir de eventos e tradições, e, ainda, Santa Bárbara e Caeté.
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Foto: Silvio Tanaka
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Foto: Divulgação Secretaria estadual de Cultura e Turismo de MG
A conciliação entre mineração e turismo é evidente, viável e pode gerar ótimos resultados. As comunidades que habitam regiões mineradoras confiam que, no pós-fechamento, as riquezas de seu subsolo e a beleza de suas paisagens possam ser redescobertas, e que também recebam de volta o que é delas: empregos, cultura e preservação do meio ambiente.
Veja mais:
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Fontes:
1. José Baptista de Oliveira Júnior. Desativação de Mina, conceitos, planejamento e custos. EDUFBA, 2006.
2. Jornal De Fato Cidades Mineradoras. Potencial turístico pós-fechamento de minas em Minas Gerais, junho de 2019.
3. Brenda Belchior – Site Minas Jr. Consultoria Mineral. Pontos Turísticos: uma alternativa para o fechamento de mina? Setembro de 2020.
4. Ministério de Minas e Energia. Agência Nacional de Mineração. Perguntas frequentes – a Resolução ANM nº 68/2021. Site do governo federal, novembro de 2021.
5. Mineral Engenharia e Meio Ambiente – Soluções Ambientais para Empresas. Informações sobre plano de fechamento de mina. Site: https://www.mineral.eng.br/.