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Quadras e palco: o poder da felicidade

Quando me recebeu na sede da Escolinha Movimento Livre, a professora Luciana Pergher disse estar cansada. Em poucos instantes, no entanto, já não existia mais aquele aspecto de quem tem trabalhado arduamente.

Ela deve ter repetido algumas vezes, durante nossa conversa, que “quem corre porque gosta não cansa”. E é nítido: o trabalho de professora desta lavrense de 33 anos foi a realização pessoal de uma menina que, no final dos anos 80, saía de casa com um coque bem puxado, meia-calça, saiote e malha cor-de-rosa. A pequena bailarina da tia Dolores não poderia imaginar que seus sonhos se tornariam realidade exatamente nos palcos.

Luciana faz parte, desde 2016, da Escola Movimento Livre, uma instituição privada que oferece além de reforço escolar, aulas de dança e futebol. Na época, convidada pela proprietária da escola, Marina Tunholi, juntaram uma turma de seis meninas para concorrer no festival lavrense Ourodança. Hoje, passados três anos, a escola já virou uma referência: “Atualmente temos 130 alunos, divididos entre as atividades que ofertamos. A Marina é uma excelente chefe, trouxe toda experiência que possui do setor público e supervisiona-nos, cobra-nos, dando toda a liberdade que um professor sonha em ter”.

Bastam ter dois dedos de prosa para sabermos: tudo o que essa libriana quer é trabalhar. Professora de Educação Física da rede estadual, a “sora Lu”, como os alunos carinhosamente a chamam, dá aulas para turmas do ensino fundamental e médio, em todos os turnos do Instituto Estadual de Educação Dr. Bulcão, também desde 2016. Mas não foi fácil chegar até aqui. “Eu me formei em 2007 pela Urcamp em Bagé, passei um ano com um contrato na Prefeitura de Lavras e logo já fui embora para trabalhar em Caçapava. Fiquei longos seis anos esperando para conseguir a remoção de volta à minha terra Natal.”

Apesar de ter se ausentado por esse período, Luciana admite que nunca passou por sua cabeça viver fora de Lavras. “Meu sonho sempre foi vir para cá e quando tive a oportunidade, vim com tudo. Construí minha casa aqui e hoje não me vejo morando em outro lugar.” Com a fala rápida, e um sorriso no rosto, que é uma de suas maiores características, ela conta que, apesar de ter sua casa, não fica um dia sequer sem visitar os pais, Elisa e Ladi. “Eles são minha base, meu suporte. Quero ser para eles o que eles foram para os meus avós. Minha mãe é minha referência como profissional e como pessoa. Virei professora por causa dela.”

Também foi da família que veio a inspiração para a educação física, quando o irmão, Alessandro, cursava esta faculdade. “Ele e a Josi também me deram as duas maiores alegrias da vida. Meus sobrinhos, Isadora e Caetano são tudo para mim. A Isadora convivo diariamente, estamos juntas na escola e também no Movimento Livre. Ela está com 12 anos então além de minha aluna é minha companheira em tudo. O Caetano, por ser menor, ele está com 3 anos, ainda fica menos comigo mas procuro estar todos os finais de semana com ele.”

Luciana conta que ao retornar para Lavras não abria mão de seus sábados entre amigos, ou de um mate no final da tarde. Hoje gerencia a vida de forma que não se afaste dos amigos mas o prazer pelo trabalho toma conta de uma parcela grande do seu tempo. “É muito bom olhar para trás e ver o amadurecimento que tivemos. Pode parecer conversa, mas o financeiro, apesar de importante, não é o que mais me motiva. Meu trabalho me enriquece, me enlouquece e me faz vibrar”.

Luciana conta orgulhosa que tem, junto com os colegas, um cuidado enorme no planejamento. “No início do ano, montamos todo o esquema para as atividades que queremos realizar e nos dedicamos a cada novo aluno que chega. Observamos a particularidade de cada um, preocupamo-nos quando algum falta, procuramos acompanhá-lo nas atividades escolares. Enfim, nossos alunos são como parte da família”.

Essa preocupação faz com que Luciana esteja sempre em busca de aprender algo novo. “A Marina me ensinou muito isso, de não estar parada, de procurar me aprimorar em tudo o que eu quiser melhorar. Me espelho muito nessa vontade que ela tem de crescer. Meu foco no momento é conhecer mais sobre o autismo, porque temos alunos com esse transtorno e quero dar a atenção que eles necessitam”.

Para a professora Lu, criar um vínculo com os membros das famílias de cada aluno é essencial. Atualmente a faixa etária do Movimento Livre vai de dois a 15 anos. “Pegamos muitas faixas de idade, então é importante que os pais estejam envolvidos no processo. Procuramos trazê-los sempre para dentro da escolinha, e os alunos se sentem mais valorizados quando enxergam os pais nas arquibancadas ou plateias assistindo aos feitos deles.”

Apesar de dizer que nunca pensara em trabalhar com dança, ela hoje fica bem confortável no papel de coreógrafa. Já são muitos prêmios ao longo dos últimos anos, e o olho da Luciana brilha ao contar que é empolgante aplicar tudo o que aprendeu teoricamente na Universidade. “Ver o desenvolvimento dessas crianças é uma motivação. Algumas delas chegam aqui pequeninhas, e vamos acompanhando o crescimento. Sempre digo a elas que a palavra de ordem é “empoderamento”. Eu quero que elas acreditem nelas mesmas e que tenham humildade na hora das conquistas, subindo cada degrau de uma vez”.

Questionada sobre a relação da cidade com a dança, Luciana destaca:  “ficou uma lacuna muito grande desde que a nossa geração era criança. A Ane Rose é uma pessoa muito importante para a dança aqui na cidade, porque ela criou um festival e motivou as professoras das escolas a se movimentarem. A partir disso, surgiram muitos grupos.” Para Luciana, a ideia é que os pais não precisem sair daqui em busca de opções para seus filhos. “A cidade passou anos sem muitas opções de atividades. Então hoje queremos contribuir. A gente busca inovar, mas sempre exaltando o trabalho de outros profissionais que estão se dedicando há anos à educação paralela: o Ricardo, com o Independente, a Helena com as línguas, e tantos outros. Queremos agregar; não queremos competir.”

A profissional afirma que visualiza um futuro promissor para a cidade e que acredita que as novas gerações já não precisarão se deslocar daqui para realizarem suas metas. “Essa função da mineração nos trouxe muita esperança, pois sabemos que virão mais pessoas, consequentemente mais renda, e que os cidadãos irão procurar mais atividades. Então vejo o Movimento Livre crescendo nesse ambiente favorável”.

A Luciana é uma mulher formada pelos valores que recebeu na vida. Em praticamente todas as frases que fala, alguém em quem se espelhou, ou alguém que a ajuda, é citado. As companheiras do Movimento Livre, Talita, Cacá e Mariana; o namorado Édipo; as colegas da escola e os amigos pessoais. “Não precisamos ir longe para conseguir a realização que buscamos. Aqui em Lavras, além de tudo, ainda tenho qualidade de vida. Vivi e respirei a escola Dr. Bulcão desde pequena. Trabalhar lá hoje é um sonho concretizado, e o Movimento Livre foi um “up” na minha vida”.

Essa vontade de crescer também explica outra paixão: a política. Luciana é muito ativa como cidadã e é daquelas que não deixa de lutar quando acredita em um ideal. “Faço greve quando necessário; não entendo as pessoas não lutarem por melhores condições de trabalho. É um direito nosso, e vou atrás não só por mim, mas por aqueles que virão depois.”

É possível definir nossa entrevistada em uma única palavra: parceira. A Luciana Pergher tia, namorada, amiga, professora, filha e coreógrafa é uma competidora nata e não deixa de estar junto de quem ama e de estender a mão a quem precisa. “Adoro sair com meus alunos para competir. Não só pela competição, mas por poder mostrar a eles outras realidades. Eu quero as crianças vendo que são capazes de alcançar seus ideais. Amo poder oferecer alternativas para tantas pessoas. Quando dizemos a nós mesmos que “podemos”, conseguimos qualquer coisa”.

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